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quinta-feira, janeiro 30, 2014
Hoje, minha amiga Lúcia me ligou e valeu o dia! Fazia um tempão que não nos falávamos. Lúcia é meu exemplo de perseverança e mãe dedicada e amorosa. Eu a conheci quando levou Hugo, seu caçula, pra ter aulas de Matemática comigo, ele estava, então, na 5ª série. Alguns anos depois, Lúcia me procurou para ajudá-la a escrever cartinhas de amor a seu outro filho que estava no Canadá. Até então meu contato com ela tinha sido mínimo, pois Hugo sempre ia sozinho para as aulas e há tempos já não o via. Fiquei encantada com todo amor que ela transmitia em suas cartas ao filho e me identifiquei com a forma como via a maternidade.
Mais alguns anos se passaram sem contato, aí, um dia, um telefonema dela: havia sofrido um AVC e tinha perdido completamente a escrita. Lia com muita dificuldade, mas não conseguia mais escrever coisa alguma. Pediu minha ajuda. Eu fiquei meio em pânico, não sabia o que faria, mas disse a ela que aprenderíamos juntas.
Em nossa primeira aula, soube que perdeu completamente a memorização das letras, de suas formas e sons. Se eu pedisse que desenhasse uma letra, não sabia. Meu pânico aumentou. Pedi a Deus uma luz, um caminho para ajudá-la, ela contava comigo.
Lembrei de umas letrinhas de plástico que usei para alfabetizar meu filho Ricardo e resolvi usá-las. Letrinhas mágicas! Primeiro formava as palavras com as letrinhas na mesa e as escrevia no caderno, copiando. Fazíamos também palavras cruzadas PICOLÉ, para crianças. Num próximo passo, já identificava as letras pelo tato, de olhos fechados. Em poucas semanas, Lúcia estava voltando a escrever sem a ajuda das letrinhas. Ela se esforçava demais, treinava em casa, sempre perseverante. Eu ficava encantada com o esforço e progresso dela. Sentia um baita orgulho de minha aluna. Nossas aulas eram sempre deliciosas, muitas conversas de mãe, enquanto aprendíamos. Eu aprendi com ela, talvez, mais do que consegui ensinar-lhe e, além de tudo, ganhei uma amiga muito querida.
Hugo está se formando em Arquitetura, é apaixonado pela profissão e reflete em sua doçura todo carinho e caráter que recebeu da mãe.
sexta-feira, janeiro 03, 2014
Idas e
vindas
Sempre que
vejo notícia de alguém perdendo um filho, um pai, um amor, um amigo, sofro. Sobretudo,
quando são jovens e crianças que se vão. Penso em meu filhos, em meu Amor Benê
e em todos que amo.
Perder quem
a gente ama é sempre dolorido, mas o tempo se encarrega de suavizar as dores,
deixando as lembranças boas prevalecerem.
Meu pai
tinha apenas 62 anos quando faleceu. Ele sempre me convidava pra almoçar em sua
casa, mas eu não ia, recusa fruto de um ressentimento causado pela separação de minha
mãe. Um dia, minha irmã mais nova me ligou dizendo que ele estava muito doente,
que mal conseguiu levantar-se da cama naquele dia. Era uma fibrose pulmonar. Joguei
os ressentimentos fora, liguei pra ele dizendo “-Pai, prepara o filé à parmegiana que vou almoçar aí!”. Ele ficou super feliz e eu muito mais,
passando a frequentar sua casa. Meses depois, ele se foi. Agradeci a Deus por
ter permitido essa felicidade entre nós.
Em minha
família, já tivemos afastamentos sérios e reconciliações emocionadas. Hoje, vivemos
em paz. Agradeço a Deus sempre por essa paz tão abençoada.
Meu amigo
Antônio era meu porto seguro. Repartia com ele tristezas e alegrias, agonias e
ansiedades, dúvidas e certezas. Sempre papeávamos online e, poucas vezes, por
telefone. Aí, ele não pode mais acessar o chat (MSN) no trabalho e, sem me dar
conta, ficamos um tempão sem contato. Um dia, me deu uma angústia e pensei
“Nossa! Faz tanto tempo que não falo com o Antônio!” e mandei-lhe um e-mail. A
resposta veio como uma bomba: estava lutando contra uma leucemia, esperando o
dia do transplante. Fiquei me sentindo tão culpada por meu afastamento, mas
ele, como sempre, me tranquilizou. O transplante foi um sucesso. Liguei em seu
aniversário e estava muito otimista, quase pronto a ter vida normal. Foi mais
de uma hora de conversa, risos, carinhos e planos. De nos encontrar e dar
aquele super abraço que adorávamos. Foi nossa última conversa. Um mês depois em
8/02/2011, sua filha mais velha me ligou, avisando que ele tinha partido,
vítima de pneumonia. Deus tinha outros
planos pra ele. Após ter revirado a agenda do celular do pai, achou meu número
na letra A como “Amigona Marcela”. Agradeci a Deus pela oportunidade de ter
compartilhado as últimas alegrias de meu amigo e ter tido aquela última conversa
tão cheia de carinho e amizade.
Perder o
Antônio foi muito difícil, ainda hoje me pego imaginando o que ele me diria
diante de situações complicadas. Achei que não sentiria um amor assim, amizade
tão intensa, por nenhum novo amigo. Na verdade, eu nem queria. Mas, a vida
sempre me surpreende e meu coração reconheceu mais um amigo especial. Foi um
presente extra que Deus me mandou. Uma amizade que cresceu aos poucos e, quando
vi, já era intensa e bonita. Infelizmente, um mal entendido afastou esse amigo
de mim. Estamos separados, espero que temporariamente, não sei o que a vida
reserva pra nossa história.
Se pensássemos
mais na fragilidade da vida, daríamos mais importância àquilo que nos une e
menos ao que pode nos separar. Não nos afastaríamos de irmãos, de pais, nem de
amigos, pois ressentimentos podemos jogar fora, mas Amor não.
Marcela Cálamo
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