'Se as coisas são inatingíveis...ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, não fora a mágica presença das estrelas!" (Mário Quintana)
 

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segunda-feira, maio 31, 2004
Em ritmo acelerado
Com a chegada do bebê, será impossível ter tempo para qualquer coisa que não seja relacionada a ele e a tudo aqui em casa. Tenho até avisado a meus alunos que não deixem para tirar nota na recuperação, pois em dezembro não darei aulas. É até engraçado, eles me olham meio em pânico, pois sempre deixam para a última hora e contam com esse empurrão final.
O nascimento do bebê também está me fazendo acelerar o ritmo de finalização de meu livro, que estava meio abandonado por pura preguiça. Ontem consegui terminar de revisar o que já estava pronto e acrescentar mais algumas coisas, chegando quase ao final dele. Nesta semana o finalizo e aí vou atrás do próximo passo.
Sei que estou muito ausente dos blogs de amigos e mal conseguindo responder e-mails, é a correria.
Diminui a frequencia das visitas, mas não o carinho pelos amigos e agradeço por estarem sempre por aqui, mesmo quando dou minhas sumidas.

terça-feira, maio 25, 2004
Reinações de Ricardinho
Há na escola de Ricardinho uma atividade chamada roda de leitura, nela cada criança compra um livro numa feira acontecida na escola, e, a cada semana, trocam os livros umas com as outras, assim todas lêem todos os livros. Nesta semana Ricardinho trouxe um livro em que crianças portadoras de deficiência são chamadas de "crianças especiais".
- Filhinho, mamãe vai te ensinar uma coisa: aí no livro está escrito que essas crianças são especiais, mas está errado, pois todas as crianças são especiais. Não é porque elas têm uma deficiência que são mais especiais que as outras. Não ouvir, não falar, não enxergar chamamos de deficiência.
- Você tem uma deficiência, mamãe!
- Isso, filhinho! Eu tenho uma deficiência física. Quem não ouve tem deficiência auditiva e quem não enxerga tem deficiência visual.
- Filhinho, você acha que eu sou uma mãe mais especial que as outras?
- Você é a mãe mais especial do mundo!!
- Mas você acha que eu sou especial só porque tenho uma deficiência?
- Não! É porque você é bonita!

quinta-feira, maio 20, 2004
A parte de cada um
Vivemos num tempo em que não faltam problemas sociais e mais e mais pessoas vão se conscientizando da importância de atuar em prol da resolução desses problemas. Surgem ongs contra violência, pelo fim do trabalho infantil, em favor dos animais, pelos direitos dos negros, dos portadores de deficiência, enfim, com os fins mais diversificados, mas cada uma com sua devida importância. Uma coisa super comum de se ouvir daqueles que participam de algum trabalho social é: "se cada um fizesse a sua parte...".
Mas, se todas as questões são importantes e se é impossível que participemos de todas elas, como saber que parte é essa que cabe a cada um? E como, diante de tantos problemas, conseguir se sentir satisfeito a ponto de achar que já se está cumprindo a parte que lhe cabe?
Geralmente, pessoas que abraçam alguma causa social optam por aquela que, de alguma forma, faça parte de sua história, de suas experiências, como os deficientes físicos que lutam contra barreiras arquitetônicas, por transportes públicos adaptados etc., ou como os negros que lutam contra o racismo, ou como aqueles que já sofreram com a violência e lutam pelo desarmamento e mais segurança, enfim, aqueles que têm histórias comuns, experiências comuns, reúnem-se em grupos, em ongs, entidades, em prol de sua causa e, com isso, essas questões acabam ganhando mais força, evidência , ganhando adesão daqueles que, talvez, nunca tivessem pensado em tais causas por não compartilharem tais experiências, e assim se dá a conscientização pelo exemplo e isso é muito bom.
Mas, e aqueles que não fazem parte de grupo algum, ou não tem nenhum trabalho que apareça na mídia, será que por isso não estão fazendo parte alguma? Será que podem ser considerados omissos ou egoístas?
Cada vez que ouço, que leio, a expressão "estou fazendo minha parte" como forma de intimidação àqueles que, aparentemente, nada fazem, sinto-me entristecida, até bronqueada. Quem me conhece sabe que sou paraplégica há 31 anos, mas, mesmo assim, há pouquíssimo tempo comecei a escrever sobre deficiência. Meus textos, publicados no blog e na SACI, colocaram-me em evidência, a ponto de ser procurada para dar entrevistas, contribuir em trabalhos universitários, ter meus textos usados em alguns projetos legais. Mas, se hoje escrevo e estou em evidência é porque tenho um instrumento poderoso ao meu alcance: a Internet. Foi esse instrumento, mais especificamente meu blog, que me permitiu tomar consciência da importância de informar as pessoas sobre as capacidades dos portadores de deficiência, mesmo que através de minhas experiências pessoais. Nem por isso acho que o que faço é mais importante do que aquilo que um outro portador de deficiência faz, mesmo que não escreva, não participe de ongs, não tenha site informativo, e tudo que faça seja tocar a vida, sair de casa (apesar das dificuldades de locomoção), expôr-se, batalhar por um emprego, mostrando que está vivo, ativo, sem medo de enfrentar preconceito ou discriminação.
O simples ato de se mostrar, de brigar isoladamente por algum direito, já é de extrema importância e não pode ser considerado como "nada".
Nem todo mundo tem desenvoltura ou disponibilidade para trabalhar em grupos. Nem todo mundo tem o dom da escrita. Muitos não têm meios de transporte para atuar fora de casa, outros sequer sabem como chegar a esses grupos ou ainda não se sentiram convidados, acolhidos para abraçar uma causa, mas nem por isso estão deixando de fazer parte de "sua parte". Muitas pessoas fazem coisas fantásticas isoladamente, sem mídia, sem holofote, sem evidência, coisas, aparentemente, pequenas, como visitar velhinhos em asilos, contar histórias a crianças doentes, recolher animais abandonados e achar quem os adote e muitos outros exemplos. São pessoas que acreditam na capacidade do ser humano de construir coisas boas, que acreditam que beneficiar algumas pessoas, mesmo que sejam poucas, é tão digno e importante quanto a muitas, que acreditam que a cidadania começa pelas pequenas coisas, pelos pequenos gestos, pessoas que jamais vão sentir que já estão fazendo "sua parte", pois há coisas demais a se fazer, mas que, com certeza, sentem que estão no caminho certo.

domingo, maio 16, 2004
Pura emoção
Sábado cedo fui fazer a ultrassonografia. Estava ansiosa, com uma sensação estranha, como se o exame fosse a confirmação de minha gravidez. O médico começou a me examinar e não achava meu útero...prendi a respiração apreensiva. De repente, vi meu bebezinho na tela. Cabecinha, corpinho, bracinho se mexendo...e o médico disse: "o coraçãozinho está batendo num ritmo normal". Foi tão emocionante! Pensei "é de verdade! Tem mesmo um bebezinho dentro de mim!". Meus olhos encheram d'água e fiquei com aquele sorriso de abobada.
Essa emoção toda foi uma surpresa para mim, não pensei que seria tanta. Achei que, por já ter Ricardinho, seria como viver algo sem muitas novidades. Quanta ignorancia a minha. A emoção de ver um bebezinho dentro de mim foi como na primeira vez. É tudo novo de novo.
Pode parecer estranho, mas, agora, estou me sentindo muito mais grávida, muito mais mãe.

quinta-feira, maio 13, 2004
Notícias do baby
Sexta passada estive com meu médico, a primeira consulta do pré natal, já com todos os exames feitos.
Nossa! Conversamos muito! Ele me acompanha há quase treze anos, desde que me casei, sabe tudo de mim e ficou super contente com está nova gravidez. A propósito, ele não é médico especialista em mulheres portadoras de deficiência física, sou sua única paciente paraplégica. Mas, isso nunca fez diferença a mim, pois sempre tive total confiança nele, sequer pensando em procurar um especialista quando engravidei pela primeira vez.
Os exames deram todos normais, na verdade, quase todos, pois foi acusada a presença de anti-corpos para hepatite B e, por isso, terei de fazer uma sorologia para confirmar. Caso seja confirmado, o bebê terá de tomar um soro ao nascer (gamaglobulina), para não desenvolver a doença. Nada sério.
Estou no início do terceiro mês, na segunda semana, e a cada dia 6 contarei um mês a mais.
Antes da consulta, passei pela tortura de ser pesada...estou muito além do meu peso, mas, por enquanto, os quilos são todos meus, nem posso creditá-los ao bebê. Para ser pesada é preciso uma ginástica: Bene se pesa primeiro, em seguida me pega no colo e nos pesamos juntos, aí o peso dele é subtraído do total. A garota que nos pesou, que me conhece desde a gravidez do Ricardinho, disse: "Daqui a pouco não dará mais para pesar os dois juntos nessa balança. Na gravidez de Ricardinho conseguimos pesar até o final." O pior é que nem pude contestar. Ah! Mas o mérito não é só meu não. Benê também ficou bem mais redondinho nesses últimos anos.
Meu médico disse que nos três primeiros meses não se deve engordar nem um grama. Não engordei, já estava com esse peso antes da gravidez. Na próxima consulta irei exatamente com a mesma roupa, assim, saberei se engordei ou não.
Sábado agora farei a primeira ultrassonografia. Não dará ainda pra ver muita coisa, mas saberemos tamanho exato do bebê, ouviremos seu coraçãozinho bater e nos certificaremos de que tudo está bem.
Estou adorando repartir essa gravidez com meus amigos da Net. Meu bebezinho nem faz idéia do quanto já é esperado e querido.
A mãe e o pai, abobados e felizes, agradecem.
Ah! O nascimento está previsto para a primeira semana de dezembro, anotem aí.

sábado, maio 08, 2004
Dia das Mães
Há mulheres que sofrem por não poderem engravidar. Outras que desperdiçam o dom de gerar vidas colocando filhos no mundo e abandonando-os, jogando fora um milagre concedido. Outras, ainda, que enchem-me de orgulho e admiração, as que adotam filhos e tornam-se mães, no sentido mais bonito que pode haver, pois doam-se a uma criança não gerada em seu ventre com total amor e dedicação.

Quando meu filho Ricardo nasceu, eu não fazia idéia do que me aguardava pela frente. Um filho, é uma revolução na vida de qualquer um, uma deliciosa revolução. Cinco anos já passaram, mas, para toda mãe, os filhos são sempre bebês e, por isso, nos dedicamos o máximo possível a eles, não importando o quanto cresçam. Têm sido anos de descobertas incríveis, de crescimento constante. Os filhos são fontes inesgotáveis de ensinamentos, eles nos mostram o tempo todo o quanto a vida é sagrada. Por eles descobrimos quanta força podemos ter num momento difícil, que nossos limites passam a ser inexistentes quando necessário e quanto somos pequenos diante de sua sabedoria.
A maternidade nos faz pessoas mais fortes e melhores. Se quando meu filho nasceu eu era um mar de dúvidas e inseguranças, não sabendo o quanto minha paraplegia poderia limitar-me em relação aos cuidados com ele, hoje, em meio à segunda gravidez, sou segurança pura e muito mais forte, força e segurança recebidas por esse anos cuidando de meu filhote e de tudo que já vivemos juntos. Ele é meu companheirinho, meu bebezão, minha melhor parte. Vendo-o tão bem e feliz, durante cada instante seu de vida, sinto-me tranqüila por saber que venho acertando e que assim também será com essa nova benção que vem chegando.

A todas nós, mães, geradoras de milagres, desejo um domingo especial. A todos nós, filhos, milagres gerados, um dia igualmente especial.

quarta-feira, maio 05, 2004
Quando você for mãe...*
Eu tinha apenas seis anos quando fiquei paraplégica. Num dia estava andando, correndo no meio da criançada, quase voando no balanço que ficava pendurado na árvore de carambolas no quintal de casa, em Santos; no outro estava numa uti, sem movimentos do pescoço para baixo, respirando por aparelhos e correndo risco de vida. Em minha visão de criança, não podia imaginar o que esse acontecido significava na vida de minha mãe. O tempo passou, os movimentos dos braços voltaram, cresci, dia a dia adaptei-me a minha nova condição, mas, em nenhum momento, parei para pensar no que essa minha adaptação, crescimento, transformação, significavam para minha mãe.
Então, meu filho nasceu. Aí, tudo em mim se transformou. Foi como mágica, passei a ver minha mãe de forma totalmente diferente. Não a via mais com meus olhos de filha, mas com olhos de mãe. Eu, que me desespero a qualquer espirro e tosse de meu filho, não posso imaginar o que minha mãe sentiu, quando tudo aconteceu comigo aos seis anos. Não posso imaginar sua angústia diante de tantas incertezas sobre minha saúde, minha recuperação, meu futuro, a única coisa que consigo é admirá-la e ser-lhe agradecida por sua fortaleza e perseverança. Lembro-me de cada momento vivido naqueles primeiros tempos, foram quatro meses de hospital e mais um tanto em tratamento antes da mudança para São Paulo. Era sempre minha mãe quem estava ao meu lado, cuidando de mim, carregando-me em seus braços a todos os lugares que precisasse ir. Ela sempre pegou em meu pé para me virar sozinha, para endireitar o corpo, nunca me poupando de responsabilidades ou tarefas. A ela devo minha independência, meu caráter, minha vida. Fico imaginando, eu que fico deslumbrada com cada pequeno progresso de meu filho, como ficava minha mãe a cada coisa aprendida por mim, a cada gesto em direção a independência; eu que, às vezes, angustio-me por não saber como será o futuro de meu filho, que expectativas minha mãe tinha para meu futuro e o quão feliz ficou ao ver que meu futuro estava acontecendo e era bom.
Muitos outros pensamentos, questionamentos, passam em minha cabeça, mas, tudo isso só começou depois que tornei-me mãe, pois foi quando compreendi que mães são seres abençoados que recebem de Deus o dom de gerar vidas, de produzir milagres.
Hoje, na segunda gravidez, sinto-me mais uma vez abençoada, por poder gerar mais uma vida, mais um milagre.
*escrito especialmente para a SACI

segunda-feira, maio 03, 2004
Reinações de Ricardinho
- Filhinho, você sabia que domingo que vem será dia das mães?
- Sim.
- E o que você vai me dar de presente?
- Um boneco.
- Um boneco??? O que vou fazer com isso?
- Brincar comigo!